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Mente...Corpo...Espírito

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vídeo - Alamar Régis e o padre médium.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

YouTube - Oração do Pai Nosso em Aramaico com Tradução

YouTube - Oração do Pai Nosso em Aramaico com Tradução

Tudo sobre Visitas Dinâmica para Leitores - Ajuda do Blogger

Reencarnação: uma ideia que fazemos da justiça divina.


Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 – Paris, 31 de março de 1869), pseudônimo Allan Kardec, filósofo, educador, escritor e fundador do Espiritismo, deixou-nos inúmeras contribuições epistemológicas importantes para o desenvolvimento da humanidade. Dentre elas, em parceria com os Espíritos Superiores, encontra-se O Livro dos Espíritos, uma obra filosófica espiritualista, ética e moral de alta profundida, contendo os princípios concernentes à Doutrina Espírita (uma síntese do conhecimento espiritual universal).
No capítulo IV (Pluralidade das Existências, item 1 – Da Reencarnação), do mesmo livro citado acima, Allan Kardec questiona os Espíritos com uma pergunta muito simples: “167 – Qual o objetivo da reencarnação?” Para uma pergunta tão objetiva, veio na seqüência uma resposta objetiva: “167– Expiação, aprimoramento progressivo da humanidade, sem o que, onde estaria a justiça?”.
Allan Kardec inquire ainda os Espíritos sobre o tema “Justiça da Reencarnação”, na pergunta 171, do mesmo livro: “sobre o que está baseado o dogma da reencarnação?” A resposta para esta questão é relativamente extensa, incluindo um comentário de Allan Kardec, mas eu sintetizaria com as primeiras frases: “Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois, repetimos sempre: Um bom pai deixa sempre aos seus filhos uma porta aberta ao arrependimento.” No terceiro parágrafo do comentário de Allan Kardec sobre essa questão específica, ele afirma: “A doutrina da reencarnação, isto é, aquela que admite para o homem várias existências sucessivas, é a única que responde a ideia que fazemos da justiça de Deus em relação aos homens colocados em uma condição moral inferior, a única que nos explica o futuro e fundamenta nossas esperanças, pois que nos oferece o meio de resgatar nossos erros através de novas provas. A razão indica essa doutrina e os Espíritos no-la ensinam.”
Portanto, foram os Espíritos Superiores e Allan Kardec, os primeiros a considerarem as questões relativas a “Reencarnação e sua justiça”, sob o ponto de vista do Espiritismo (tendo como marco de fundação desta doutrina a publicação de O Livro dos Espíritos em 1857), um aprimoramento espiritual da alma que retorna a vida corpórea e um resgata das faltas ou erros cometidos no passado, em outras existências. Em diversas obras espíritas e não espíritas, sobre o tema reencarnação, de várias culturas diferentes, sob vários olhares distintos, seja de religiosos, não-religiosos, pesquisadores, etc, há um princípio que norteia a ideia da reencarnação: a evidência da existência da vida após a morte e a necessidade que o ser, personalidade ou espírito possui, de retornar ao cenário da terra para resgatar, refazer, cumprir, crescer e transcender as dificuldades da existência biofísica, como uma conseqüência causal que se prolonga em vidas sucessivas.
Sob o olhar das religiões e culturas orientais, a reencarnação e sua justiça se desdobra nos aspectos relativos ao conceito de “carma” ou “karmam”, termo do sânscrito que significa “ação”. No budismo, por exemplo, o ser humano está preso à samsara (roda das reencarnações), por gerar “carma”, onde a libertação da roda de samsara ou das reencarnações deve ser alcançada pelo desenvolvimento de atos e intenções corretas. As várias conceituações de reencarnação que podemos analisar nos faz perceber que o sentido e a ideia de o Espírito retornar à vida biofísica, em outros corpos, após a morte do corpo biológico, permanece inalterado. Este seria um ponto ou fundamento comum entre estas várias concepções de reencarnação
O retorno do Espírito a vida na terra ou reencarnação é um dos fundamentos do espiritismo de suma importância. Fazendo um comentário na questão 199 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec coloca: “Pela reencarnação, a igualdade é para todos; o futuro pertence a todos sem exceção e sem favor para ninguém; os que chegam por último não podem culpar senão a si mesmos. O homem deve ter o mérito dos seus atos, como tem a responsabilidade.” Uma lei universal de causas e efeitos sucessivos, sob o ponto de vista espiritual, mesmo que sejam desconhecidas as causas de alguns desses efeitos evidentes, deve ser considerada como uma explicação plausível e coerente para justificar uma série de acontecimentos pessoais e coletivos, onde a simples expressão ceticista “isso é fruto do acaso” não responde melhor que a ideia de uma ação e reação, direta ou indireta, de fatos e coisas do espírito.
Os mais céticos, certamente, não concordaram com essa hipótese reencarnatória, ainda mais de ser ela considerada como fonte explicativa de acontecimentos passados, presentes e futuros (a esperança na vida futura, da vida após a morte, “reserva-nos” melhores condições de vida, a priori). Os céticos também são coerentes (apenas aqueles que de fato o são) com suas crenças, a priori, onde a negativa da evidência espiritual se forma como um pressuposto explicativo, uma vez que as condições de verificação da realidade espiritual nem sempre se encaixam “perfeitamente” nas teorias e/ou nos métodos científicos existentes. O ceticismo científico baseia-se na necessidade ou na exigência de verificar as ideias, crenças, hipóteses, pressupostos, através dos métodos comprovadamente científicos e historicamente validados por uma comunidade acadêmica, mesmo que nem sempre isso seja amplamente utilizado pelos céticos.
Frente a toda essa conjuntura de fatos sociais, pessoais e acontecimentos fortuitos, “ocasionais”, das pequenas às grandes tragédias, dentre tantas formas de análises das coisas físicas e extra físicas, estamos experimentando o sabor de viver a vida que merecemos. Sim, há um merecimento implícito e explícito em todas essas coisas da vida. Uma expressão muito singela, mas que guarda uma profundidade por trás de suas palavras, quase como quem entra num labirinto e não consegue achar a saída, diz: Quem deve paga, quem merece recebe.
Eu fico pensando... Seria realmente muito injusto eu pagar alguma conta da qual eu não sou devedor! Seria uma crueldade tamanha eu ser acusado de um crime que não cometi! Seria falta de justiça eu ser condenado por algo que não fiz ou receber uma punição maior do que deveria! Merecemos viver aquilo de que somos responsáveis. Merecemos receber aquilo de que plantamos ou estamos plantando. Merecemos passar por aquilo que fomos construindo ao longo dos anos ou estamos construindo agora. Somos merecedores de tudo o que é nosso! Se foram infortúnios, desgraças, maldades ou bondade, amor, paz, fraternidade, o que mais nos dedicamos a fazer, a semear, a construir, consequentemente, será isso o que colheremos ou possivelmente já estamos colhendo no presente! É conseqüentemente válido respondermos ou sofrermos uma ação da qual somos o autor e se faz justiça. Mas o que vem a ser justiça? Segundo os Espíritos que ditaram O Livro dos Espíritos, justiça consiste no respeito aos direitos de cada um e esses direitos são determinados pelas leis humanas e pelas leis naturais.
Quando julgamos as pessoas, suas vidas e suas ações (ainda olhando pelo prisma da justiça e da reencarnação ou da lei do karma, ou da lei de ação e reação), baseando-se na lei de talião - lex talionis -, que consiste numa rigorosa reciprocidade, retaliação do crime e da pena cometidos, vemos mais de perto a condição inferior de nossas consciência em fazer justiça com os mesmos atos de injustiça. Se eu fui agredido injustamente, devo, posso, segundo a lei de talião, revidar meu agressor com a mesma medida de força sofrida. Talvez seja esta a condição primitiva da defesa e do ataque em nossa espécie.
Infelizmente, boa parte das pessoas atribuem causas diretas do passado (outras existências) aos acontecimentos e sofrimentos do presente, uma relação causa-e-efeito direto, quando nem sempre se sabe com critérios lúcidos quais as questões implicadas na história de vida dos envolvidos. A história de vida das pessoas é construída com base nos eventos passados (outras existências) e eventos presentes (atual existência), e para cada abrangência existencial dessa, desdobram-se sem números de outras situações conhecidas e desconhecidas. Uma grande teia complexa de relacionamentos se forma, onde uma única pessoa faz contato direto com outra, e esta por sua vez repete o movimento com uma terceira e sucessivamente, ambas influenciam-se num verdadeiro processo de mutuo contato interexistencial. Tudo se encadeia no universo! Nada está solto, tudo está interconectado.
Segundo o físico nuclear David Bohm, o universo inteiro funciona como um holograma, em que cada uma das partes interpenetra as outras. O todo está nas partes e as partes estão no todo. O nosso corpo seria um bom exemplo de interconectividade funcional e dinâmica.
Podemos receber o fruto de nossos investimentos no presente, por méritos de nossos esforços atuais, como podemos sofrer uma conseqüência, agradável ou desagradável, por causas passadas implicadas em nossa rede de relacionamentos.
Com a questão do merecimento ou da meritocracia, onde obtemos os resultados daquilo de que fomos capazes de realizar por nossos próprios esforços, habilidades e aptidões (méritos), parece-nos que vamos formando uma espécie de banco de dados de atos e intenções, um tipo de currículo vitae, de nosso próprio desempenho espiritual ao longo dos tempos.
Podemos inferir que todos somos merecedores das mais altas possibilidades de perfeição. Por princípios transcendentes e espirituais, merecemos as melhores condições de vida existente e pós-existente, pelo fato, a priori, de sermos imortais e criados para felicidade suprema. Somos divinos! Mesmo assim (e esta é uma situação limitante, condicionante biopsicossocioespiritual), não estamos, enquanto seres humanos enraizados na terra e limitados em várias condições do viver, capazes de nos qualificar como alguém, aqui e agora, livre em absoluto de qualquer mácula pretérita. Nossa situação de Espírito reencarnante e pós-existente á vida biológica, nos favorece a um contínuo desenvolvimento de nossas potencialidades divinas. O potencial é a condição visível ou pensada de uma ação real de vir-a-ser. Pelo fato de estarmos num processo evolutivo e contínuo de ações e reações (karma), estamos construindo o nosso destino, com base em nossa experiência passada, presente e futura. Então, do ponto de vista do equilíbrio da balança encarnatória, sofreremos mais ou menos, ganharemos mais ou menos, receberemos mais ou menos, cumpriremos mais ou menos os nossos destinos, de acordo com a medida dos nossos esforços pessoais e coletivos, considerando a força do passado, do presente e do nosso futuro, todos coexistindo no aqui e agora. Ao dizermos que somos frutos de nossas escolhas no aqui e agora, devemos ampliar esta afirmação para incluir todas as nossas experiências e escolhas passadas, de outras existências, sem o que estariam faltando peças importantes no grande quebra-cabeça da vida e das relações humanas.
Uma outra importante questão filosófica se lança nessa discussão sobre reencarnação como uma idéia de justiça divina, diz respeito com a liberdade. Marilena Chauí, no capítulo 6 – A Liberdade, do livro “Convite à filosofia” argumenta: “Se o mundo é um tecido de acasos felizes e infelizes, como esperar que sejamos sujeitos livres, se tudo o que acontece é imprevisível, fruto da boa e da má sorte, de acontecimentos sem causa e sem explicação? Como sermos sujeitos responsáveis num mundo feito de acidentes e de total indeterminação? Se tudo é contingência, onde colocar a liberdade?” Discorrer sobre liberdade é como dirigir um automóvel em noite escura, chuvosa, com pista escorregadia e pouca visibilidade. O risco de acidentes é muito grande!
Allan Kardec e os Espíritos que ditaram “O Livro dos Espíritos”, afirmam que a liberdade de agir existe desde que haja liberdade de fazer e que a liberdade é uma conquista gradativa como conseqüência do desenvolvimento do homem. O livre arbítrio é aplicado às coisas de acordo com as necessidades. Conforme vamos avançando em nossas necessidades, avançamos em nossa liberdade. Então, de uma forma ou de outra, temos liberdade, porém temporalizadas as condições limites existenciais.
Não podemos pensar a liberdade sem considerar a presença da consciência, da vontade e da responsabilidade. Agir com liberdade é ter consciência para dirigir a vontade e assumir a responsabilidade pelos atos praticados. Mas não estamos conscientes de tudo, nem muito menos o tempo todo! Escolher é colocar nossa capacidade em experimentação. Escolher é exercer o direito de livremente manifestar-se com os recursos e capacidades próprias, segundo a força da vontade e a abrangência da consciência, que assumirá, determinantemente, uma responsabilidade.
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Eu sou Geylson Kaio, psicoterapeuta e atual presidente da ASSEPE.

da do Blogger

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cientistas são ocultistas? VÍDEO 3/3.
 Assista aqui mesmo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



Cientistas são ocultistas? Vídeo 2/3.

Cientistas são ocultistas?


Cientistas são ocultistas? . Um série de 3 vídeos documentário pela Discovery. Assista aqui mesmo.

 



domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cisne Negro: Uma aula cinematográfica de Psicologia Junguiana

por Carlos Antonio Fragoso Guimarães

    A sombra... elemento fantasmático, região do espaço cuja penumbra é provocada quando a luz é impedida de fluir por um objeto... a sombra possui os contornos do mesmo objeto, sendo sua projeção negativa, inevitavelmente ligada a ele... Na psicologia junguiana a sombra é a representação arquetípica de tudo o que temos, potenciais bons e maus, que não reconhecemos como sendo nosso, mas que nos segue onde quer que vamos e que geralmente projetamos em outras pessoas...
    O psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) criou alguns dos conceitos de psicologia mais populares (apesar da resistência dos freudianos). Conceitos como “complexos”, indivíduos “introvertidos” e“extrovertidos” e “inconsciente coletivo” são de sua lavra. Ele também propôs que o comportamento humano possui linhas de reconhecimento universal e que são transcritas, metaforicamente, nos mitos e contos universais. A tendência do desenvolvimento de capacidades, dificuldades ou a possibilidade de uma clivagem polar que todos temos (bem e mal, sapiência e demência, etc.) são expressas figuradamente em histórias folclóricas, mitos e contos de fada.    
    Na história de “O Lago dos Cisnes”, que foi musicada e, assim, imortalizada pelo compositor russo Piotr Ilich Tchaikovsky (1843-1893), vemos essa polaridade na presença de Odette, a ingênua e romântica princesa que é transformada em um cisne branco, e Odile, sua irmã gêmea, a maliciosa, sedutora e malvada rainha dos cisnes, e que é o cisne negro. Uma e outra personagem são metáforas das polaridades internas extremas e dos potenciais que todos possuímos, mas que, aqui, se inserem mais na questão do desenvolvimento da psique feminina. A menina sonhadora que desperta para o desejo, à competitividade, ao processo de enfrentar desafios. Quanto mais conscientemente uma dessas polaridades é hipertrofiada, o mesmo ocorre com a outra, mas de modo inconsciente, o que pode causar um conflito psicológico que, em casos extremos, leva ao surto psicótico. Esta ocorrência, que Jung tão bem estudou, foi transposta para as telas em um dos mais notáveis (e raros, dentro do padrão comercial hollywoodiano) filmes dos últimos tempos: Cisne Negro, de Darren Aronofsky, com a esplêndida Natalie Portman no papel da, inicialmente, frágil bailarina Nina.
   No filme, Nina é uma bailarina dominada pela mãe frustrada e que faz de tudo para se destacar no corpo de baile. Assim, quando surge a chance de interpretar as gêmeas opostas de “O Lago dos Cisnes”, Nina se entrega totalmente ao projeto. Super controlada pela mãe, insegura, emocionalmente reprimida e sem amigos, Nina dedica-se exclusivamente ao balé, buscando uma perfeição exagerada que se reflete no controle exacerbado da alimentação e do controle do corpo que ela trata como instrumento – a única forma de contato mais íntimo (e já sintoma neurótico da alienação que se estabeleceu entre o desejo consciente de perfeição e repressão dos sentimentos, que tentam gritar a partir do inconsciente) é a auto-mutilação que ela exerce inconscientemente sobre si mesma, por arranhões.
    Pressionada por seu coreógrafo e diretor Thomas (Vincent Cassel), Nina será questionada, mais uma vez, a demonstrar suas capacidades, já que sua fragilidade ingênua - que é perfeita para o papel de Odette - comprometeria a interpretação de protagonista de “O Lago dos Cisnes”, pois Nina também deve desempenhar o papel da Rainha dos Cisnes, Odile. Nina, então, é desafiada pela própria vida, pelo seu próprio mundo, a entrar em um acordo com sua psique polarizada entre a "persona" consciente, o papel de menininha da mamãe, e a sua sombra: a mulher sedutora, violenta, que ela reprimie no inconsciente. Nina precisa integrar, reconhecer-se em sua própria profunidade, sentir seus elementos aparentemente "negativos" se quiser atingir a perfeição (metáfora da individuação). Ela tem de desempenhar simultaneamente o cisne branco (símbolo da pureza e ingenuidade) e o cisne negro (metáfora para a malícia, sensualidade e maldade). Ou seja, Nina teria de unir, na prática, sua própria psique fraturada entre a “menina” meiga e passiva, cujo quarto é cheio de ursinhos de pelúcia, e a mulher que é/foi reprimida pela mãe e por ela mesma, Nina. O desafio da individuação, contudo, não é isento de perigos.
    O Cisne Negro é, portanto, o desafio do encontro de Nina com sua própria sombra, ou, seja, segundo Jung, com todos os elementos que possuímos mas que são reprimidos, que não reconhecemos como sendo nossos. A questão da projeção interna no meio externo fica sugerida várias vezes pela presença de espelhos sempre presentes ante Nina. Sua maior rival no corpo de baile, a sensual e desinibida Lily, papel desempenhado pela brilhante atriz Mila Kunis, é ao mesmo tempo seu alter-ego, a pessoa que estimula a eclosão do "Cisne Negro" em Nina. Na verdade, as duas belas bailarinas acabam sendo expressões de Odile o Odette ao nível da disputa real, embora, na mente conturbada de Nina, Lily acabe por apresentar traços mais fortes do que realmente possui.
    Está claro que Aronofsky  em seu filme discorre sobre a fragilidade e o tênue equilíbrio da mente humana, bem como as forças que se desencadeiam no palco psíquico quando uma perturbadora ambição a move em busca de um sonho, mas o faz de uma maneira ao mesmo tempo cruel e poética, o que mexe com a psique da maioria das pessoas que assistem o filme, atingidas, inconscientemente, pelos elementos expostos e que repercutem na própria sombra, na própria polaridade consciente/inconsciente, na dualidade do bem/mal de cada um.    
    Na busca pela perfeição e na tentativa de provar a Thomas que é capaz de desempenhar o papel (e, inconscientemente, de integrar e expor seu lado mais selvagem), Nina é conduzida de tal forma pelo enredo e pela busca da perfeição que não consegue perceber que isso está liberando todo o seu mundo de elementos reprimidos, que explode de tal modo que ela já não consegue perceber mais os limites entre sonho e realidade. Aos poucos, seu destino se sobrepõe ao enredo de “O Lago Dos Cisnes”. A música de Tchaikovsky, dramática e bela, é quase como uma expressiva contrapartida de sua metamorfose, elemento sonoro envolvente que "narra" e expressa a tempestade íntima de Nina, e que é indispensável à trama.
    A sombra de Nina, exemplificado pela essência de sua feminilidade, aflora e toma conta de sua personalidade sem que ela consiga controlá-lo. Dá-se inicio a uma metamorfose que expressa aquilo que acontece com muitas pessoas que sucumbem à emergência do material inconsciente pela psicose. No caso de Nina, vemos que tal emergência conduzirá a protagonista a conflitos que a levam a um destino perturbador e extraordinariamente poético, apesar de trágico, numa interpretação arrebatadora de Natalie Portman.    
    O Filme “Cisne Negro” é uma aula de psicologia e cinema, de poesia dramática e filosofia, indispensável ao estímulo do pensar sobre a vida.  



      

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vídeo 2/2 - Documentário sobre Carl G. Jung.
Simples, mas com informações muito adequadas, principalmente para quem não tem muito contato com o trabalho de Jung ou da Psicologia.

Rápido Informe

No último dia 12 de fevereiro/2011, na sede da ASSEPE –Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa, foi entregue o título de Presidente da ASSEPE, para o biênio 2011/2012, ao Psicólogo Geylson Kaio, tendo como Vice-presidente Júlio César, que também empossado.

O compromisso está firmado: acelerar uma dinamização e desenvolvimento dos processos internos do grupo, além de buscar estabelecer uma ampla rede de diálogos possíveis com toda comunidade espírita e não espírita, fomentando parcerias de estudos e pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento. Com uma visão plural, buscaremos uma aproximação com a sociedade em geral, sem discriminação, exclusão ou qualquer ato de desrespeito humano. Nossa ideia é juntar para crescer melhor.

Trabalho apresentado na ASSEPE - Associação de Estudo e Pesquisas Espíritas de João Pessoa/PB.
Teoria do conhecimento: uma introdução ao pensamento de Johannes Hessen.

1. Introdução
Para Hessen (2000), a Teoria do Conhecimento é uma disciplina filosófica e precisa de uma definição concernente a sua essência filosofal, uma espécie de condição para enquadramento no ramo da filosofia. Para o autor, as definições da essência da filosofia são tão genéricas e muitas vezes contrárias entre si mesma, que seria impossível buscar uma unidade definidora da essência da filosofia. Porém, ele considera possível o trabalho de procurar por uma definição, voltando-se ao fato histórico, mas especialmente, perseguindo as diretrizes do filósofo Dilthey em seu tratado sobre A Essência da Filosofia. Como observa Dilthey, deve-se buscar primeiramente um conteúdo comum aos sistemas que representam o quadro geral da filosofia. Algumas características ou marcas da essência de toda filosofia pode ser representadas como: uma atitude em relação à totalidade dos objetos; e um caráter racional, cognoscitivo dessa atitude. A filosofia é tanto uma “visão de si”, como uma “visão do mundo”. Na historia da filosofia há um movimento pendular entre estes dois pontos fundamentais. Não se trata de um aspecto negar o outro, mas tanto um como o outro serem vistos como aspectos universais desta definição em curso. Afirma Hessen: “A filosofia é auto-reflexão do espírito sobre seu comportamento valorativo teórico e prático e, igualmente, aspiração a uma inteligência das conexões últimas das coisas, a uma visão racional de mundo.” A “visão de si” e a “visão de mundo” se dão a partir da conexão, ou de outra forma, a autoreflexão é um meio para se atingir a visão de mundo.
Johannes Hessen argumenta ainda que a ciência, a arte, a religião e a moral exercem funções superiores da cultura e do espírito humano. Para ele a moral pertence ao lado prático e a filosofia ao lado teórico. “Enquanto as ciências particulares tomam por objeto uma parte da realidade, a filosofia dirigi-se a totalidade do real. A filosofia como uma espécie de ciência universal.” O autor considera que a filosofia está nas cercanias da ciência, possibilitando uma afinidade entre ambas por se basearem na mesma função do espírito humano: o pensamento. A Arte, a Religião e a Filosofia desejam solucionar os enigmas da vida e do mundo, com suas interpretações e visões de mundo, e o que as diferenciam é a origem destas visões. A visão filosófica nasce do conhecimento racional e a visão religiosa brota da fé. A filosofia tem uma face voltada para a Arte e para a Religião, e outra voltada para a ciência, onde tem em comum o caráter teórico. Na cultura, a filosofia tem lugar entre a ciência, de um lado, e a religião e a arte de outro. Mas é da religião que a filosofia está mais próxima, uma vês que a religião também se dirige a totalidade do ser, com interpretações dessa totalidade, diz-nos Johannes Hessen.

2. A posição da teoria do conhecimento no sistema da filosofia
A posição da teoria do conhecimento, segundo Hessen, pode ser dividida em três partes: teoria da ciência, teoria do valor e teoria da visão de mundo. A teoria da ciência se dá enquanto reflexão sobre o comportamento teórico, a filosofia é teoria do conhecimento científico. A teoria do valor se faz enquanto reflexão sobre o comportamento prático do espírito, valo no sentido restrito, a filosofia é teoria do valor. A auto-reflexão do espírito não é um fim em si mesmo, mas meio para se atingir uma visão de mundo. Portanto, a teoria da visão de mundo é decomposta em metafísica; a teoria do valor dividi-se em éticos, estético e religiosos; e a teoria da ciência é decomposta em teoria formal e doutrina material da ciência. A lógica pertence à teoria formal e a teoria do conhecimento pertence à doutrina material da ciência ou simplesmente doutrina científica.

3. Possibilidades do conhecimento
Johannes Hessen afirma que a teoria do conhecimento é uma interpretação e explicação filosófica do conhecimento humano e para alcançar esta afirmação, ele se utiliza do método fenomenológico. Diz Hessen: “Em nosso caso, o método não descreve um processo de conhecimento determinado, não procura estabelecer o que é característico de um determinado conhecimento, mas aquilo que é essencial a todo conhecimento, aquilo em que consiste sua estrutura geral.” Assim, toda explicação e interpretação devem ser precedidas de uma observação e descrição exata dos objetos. Procura-se apreender as características essenciais desse fenômeno chamado conhecimento, apreende-se a essencial geral do fenômeno concreto. Neste sentido, e de acordo com Johannes Hessen, o fenômeno do conhecimento se apresenta da seguinte forma: o conhecimento aparece como uma relação entre dois elementos, consciência e objeto, sujeito e objeto; o dualismo entre sujeito e objeto permanece na essência do conhecimento; essa relação entre consciência e objeto é uma correlação, uma relação recíproca, onde o sujeito só é sujeito para um objeto e um objeto só é objeto para um sujeito. Mas ser sujeito é completamente diverso de ser objeto. A função do sujeito é apreender o objeto e a função do objeto é ser apreensível, é ser apreendido pelo sujeito. No entanto, não é o objeto que é arrastado para a esfera do sujeito, pois ele permanece transcendente a ele, é no sujeito que algo foi alterado pela função cognoscitiva. Daí surge no sujeito a figura que contém as determinantes do objeto, uma “imagem” do objeto.

O sujeito não é pura e simplesmente determinado pelo objeto, mas apenas a imagem nele (sujeito), do objeto. Por isso se fala que o objeto é o determinante, o sujeito é o determinado. A imagem é objetiva na medida em que carrega consigo as características do objeto. Diferente do objeto, a imagem está, de um certo modo, entre o sujeito e o objeto, é o meio pelo qual a consciência cognoscente apreende seu objeto. A verdade do conhecimento consiste na concordância da imagem com o objeto. A essência do conhecimento está estreitamente ligado ao conceito de verdade. Só o conhecimento verdadeiro é conhecimento efetivo. Um conhecimento é verdadeiro na medida em que seu conteúdo concorda com o objeto intencionado. Conseqüentemente, o conceito de verdade é um conceito relacional. Ele expressa um relacionamento do conteúdo do pensamento, da figura, com o objeto. Uma representação inadequada pode ser verdadeira, apesar de incompleta, se as características que contém a imagem, figura, existirem efetivamente no objeto. “Conhecimento não-verdadeiro” não é propriamente conhecimento, mas erro e engano. Afirma textualmente Johannes Hessen: “O fenômeno do conhecimento humano fica, assim, esclarecido no que diz respeito a suas características principais. Ficou claro, ao mesmo tempo, que esse fenômeno faz fronteira com três esferas distintas. Como dissemos, o conhecimento possui três elementos principais: sujeito, "imagem" e objeto. Pelo sujeito, o fenômeno do conhecimento confina com a esfera psicológica; pela "imagem", com a esfera lógica; pelo objeto, com a ontológica.” Com base na descrição fenomenológica, busca-se uma explicação e uma interpretação filosófica, uma teoria do conhecimento.

4. O problema do conhecimento. A questão da possibilidade do conhecimento, será o sujeito realmente capaz de apreender o objeto?
O autor argumenta que existem cinco problemas parciais para a possibilidade do conhecimento, a saber: dogmatismo, ceticismo, subjetivismo/ relativismo, pragmatismo e criticismo.
a) Dogmatismo. Esta palavra bem do grego e quer dizer doutrina estabelecida. Este ponto de vista é sustentado por uma confiança na razão humana que ainda não foi acometida pela dúvida. O conhecimento não é uma relação entre sujeito e objeto. Acredita-se que os objetos do conhecimento são dados como tais e não pela função mediadora do conhecimento. Na concepção de Kant, “o dogmatismo é o proceder dogmático da razão pura, sem a crítica de sua própria capacidade”. É uma atitude do homem ingênuo. É o primeiro e mais antigo dos pontos de vista.
b) Ceticismo. De, sképtesthai (considerar, examinar). Para o ceticismo o sujeito não é capaz de apreender o objeto. O conhecimento como apreensão efetiva do objeto seria impossível. Não se pode fazer juízo algum, deve-se abster de toda e qualquer formulação de juízo. Enquanto o dogmatismo desconsidera, de certo modo, o objeto, o ceticismo não enxerga o sujeito. Sua atenção está voltada para fatores subjetivos do conhecimento. O método do ceticismo consiste em: por em dúvida tudo o que aparece como certo e verdadeiro à consciência natural, eliminando toda inverdade e atingindo um conhecimento absolutamente seguro. Não há certeza no sentido estrito, apenas verossimilhança. De dois juízos contraditórios, um é exatamente tão verdadeiro quanto o outro. Para o ceticismo religioso, emprega-se o termo agnosticismo. Para o ceticismo ético, emprega-se o relativismo. Para o ceticismo metafísico, emprega-se o positivismo.
c) Subjetivismo e Relativismo. A validade da verdade restringi-se ao sujeito que conhece e julga. Para ambos, a verdade existe, mas é limitada a sua realidade. Não há verdade universalmente válida. Quando se julga que 2 x 2 = 4, este juízo é verdadeiro apenas para mim. Para outra pessoa ele pode ser falso. Enquanto o subjetivismo faz o conhecimento depender de fatores cognoscentes no sujeito, o relativismo enfatiza os fatores externos. Uma contradição: o subjetivismo e o relativismo afirmam que não existe verdade universalmente válida, mas a expressão “toda verdade é relativa” é uma validade mais que relativa. Traduz um estado de coisas objetivo que vale para um todo sujeito pensante.
d) Pragmatismo. Do grego prâgma, ação. Segundo esta concepção, verdadeiro significa o mesmo que útil, valioso, promotor da vida. O homem é antes de tudo um ser prático, dotado de vontade, ativo e não um ser pensante, teórico. A verdade do conhecimento consiste na concordância do pensamento com os objetivos práticos do homem, naquilo que provar se útil e benéfico para sua conduta prática. O problema do pragmatismo é que ele desconhece o valor próprio, a autonomia do pensamento humano. Nietzsche (1900) ensina: “A verdade não é um valor teórico, mas uma expressão para a utilidade, para a função do juízo que é conservadora de vida e servidora da vontade de poder”.
e) Criticismo. De krínein, examinar, pôr à prova. É um ponto de vista intermediário entre o dogmatismo e o ceticismo. Não é cético nem dogmáticos, é questionador. Aproxima-se do ceticismo – junta à confiança no conhecimento humano em geral uma desconfiança com relação a qualquer conhecimento determinado. Poe a prova toda afirmação da razão humana e não aceita nada inconscientemente. No fundo, subjetivismo, relativismo e pragmatismo é uma forma de ceticismo. Com relação ao método para filosofar, investiga as fontes das afirmações e objeções, tanto quanto as bases fundamentais sobre os quais repousam. Deposita uma esperança em atingir a certeza. Dentre as possibilidades do conhecimento, este é o que parece ser o mais maduro. “Seu comportamento não é nem cético nem dogmático, mas criticamente inquisidor – um meio termo entre a temeridade dogmática e o desespero cético”.

5. O conceito de verdade.
Quanto ao conceito de verdade, vale relembrar a concepção adotada por Johannes Hessen. Para ele a verdade do conhecimento consiste na concordância do conteúdo do pensamento com o objeto, esta concepção define-se por um conceito transcendente de verdade. Contudo, esta conceituação se contrapõe com uma outra chamada de conceito imanente de verdade. Para o conceito imanente de verdade, a essência da verdade está na relação do conteúdo do pensamento com algo contraposto, transcendente, mas no interior do próprio pensamento. A verdade é a concordância do pensamento consigo mesmo. Nesta última concepção, o conceito imanente ou idealista de verdade carrega consigo um critério de verdade – a ausência de contradição. Esse tipo de critério lógico só poderá ser validado para algumas ciências particulares, como a lógica e a matemática, pois não lida com objetos reais. Assim, segundo esta concepção, um juízo é considerado verdadeiro se construído segundo as leis e normas do pensamento. Entre tanto, esse critério de verdade fracassa quando não mais tratamos com objetos ideais, mas com os objetos reais ou reais para a consciência.