Fique a vontade...


Psicologia, ciência, arte, espiritualidade, filosofia, cultura e outras coisas mais.

Mente...Corpo...Espírito

Mente...Corpo...Espírito

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vídeo 2/2 - Documentário sobre Carl G. Jung.
Simples, mas com informações muito adequadas, principalmente para quem não tem muito contato com o trabalho de Jung ou da Psicologia.

Rápido Informe

No último dia 12 de fevereiro/2011, na sede da ASSEPE –Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa, foi entregue o título de Presidente da ASSEPE, para o biênio 2011/2012, ao Psicólogo Geylson Kaio, tendo como Vice-presidente Júlio César, que também empossado.

O compromisso está firmado: acelerar uma dinamização e desenvolvimento dos processos internos do grupo, além de buscar estabelecer uma ampla rede de diálogos possíveis com toda comunidade espírita e não espírita, fomentando parcerias de estudos e pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento. Com uma visão plural, buscaremos uma aproximação com a sociedade em geral, sem discriminação, exclusão ou qualquer ato de desrespeito humano. Nossa ideia é juntar para crescer melhor.

Trabalho apresentado na ASSEPE - Associação de Estudo e Pesquisas Espíritas de João Pessoa/PB.
Teoria do conhecimento: uma introdução ao pensamento de Johannes Hessen.

1. Introdução
Para Hessen (2000), a Teoria do Conhecimento é uma disciplina filosófica e precisa de uma definição concernente a sua essência filosofal, uma espécie de condição para enquadramento no ramo da filosofia. Para o autor, as definições da essência da filosofia são tão genéricas e muitas vezes contrárias entre si mesma, que seria impossível buscar uma unidade definidora da essência da filosofia. Porém, ele considera possível o trabalho de procurar por uma definição, voltando-se ao fato histórico, mas especialmente, perseguindo as diretrizes do filósofo Dilthey em seu tratado sobre A Essência da Filosofia. Como observa Dilthey, deve-se buscar primeiramente um conteúdo comum aos sistemas que representam o quadro geral da filosofia. Algumas características ou marcas da essência de toda filosofia pode ser representadas como: uma atitude em relação à totalidade dos objetos; e um caráter racional, cognoscitivo dessa atitude. A filosofia é tanto uma “visão de si”, como uma “visão do mundo”. Na historia da filosofia há um movimento pendular entre estes dois pontos fundamentais. Não se trata de um aspecto negar o outro, mas tanto um como o outro serem vistos como aspectos universais desta definição em curso. Afirma Hessen: “A filosofia é auto-reflexão do espírito sobre seu comportamento valorativo teórico e prático e, igualmente, aspiração a uma inteligência das conexões últimas das coisas, a uma visão racional de mundo.” A “visão de si” e a “visão de mundo” se dão a partir da conexão, ou de outra forma, a autoreflexão é um meio para se atingir a visão de mundo.
Johannes Hessen argumenta ainda que a ciência, a arte, a religião e a moral exercem funções superiores da cultura e do espírito humano. Para ele a moral pertence ao lado prático e a filosofia ao lado teórico. “Enquanto as ciências particulares tomam por objeto uma parte da realidade, a filosofia dirigi-se a totalidade do real. A filosofia como uma espécie de ciência universal.” O autor considera que a filosofia está nas cercanias da ciência, possibilitando uma afinidade entre ambas por se basearem na mesma função do espírito humano: o pensamento. A Arte, a Religião e a Filosofia desejam solucionar os enigmas da vida e do mundo, com suas interpretações e visões de mundo, e o que as diferenciam é a origem destas visões. A visão filosófica nasce do conhecimento racional e a visão religiosa brota da fé. A filosofia tem uma face voltada para a Arte e para a Religião, e outra voltada para a ciência, onde tem em comum o caráter teórico. Na cultura, a filosofia tem lugar entre a ciência, de um lado, e a religião e a arte de outro. Mas é da religião que a filosofia está mais próxima, uma vês que a religião também se dirige a totalidade do ser, com interpretações dessa totalidade, diz-nos Johannes Hessen.

2. A posição da teoria do conhecimento no sistema da filosofia
A posição da teoria do conhecimento, segundo Hessen, pode ser dividida em três partes: teoria da ciência, teoria do valor e teoria da visão de mundo. A teoria da ciência se dá enquanto reflexão sobre o comportamento teórico, a filosofia é teoria do conhecimento científico. A teoria do valor se faz enquanto reflexão sobre o comportamento prático do espírito, valo no sentido restrito, a filosofia é teoria do valor. A auto-reflexão do espírito não é um fim em si mesmo, mas meio para se atingir uma visão de mundo. Portanto, a teoria da visão de mundo é decomposta em metafísica; a teoria do valor dividi-se em éticos, estético e religiosos; e a teoria da ciência é decomposta em teoria formal e doutrina material da ciência. A lógica pertence à teoria formal e a teoria do conhecimento pertence à doutrina material da ciência ou simplesmente doutrina científica.

3. Possibilidades do conhecimento
Johannes Hessen afirma que a teoria do conhecimento é uma interpretação e explicação filosófica do conhecimento humano e para alcançar esta afirmação, ele se utiliza do método fenomenológico. Diz Hessen: “Em nosso caso, o método não descreve um processo de conhecimento determinado, não procura estabelecer o que é característico de um determinado conhecimento, mas aquilo que é essencial a todo conhecimento, aquilo em que consiste sua estrutura geral.” Assim, toda explicação e interpretação devem ser precedidas de uma observação e descrição exata dos objetos. Procura-se apreender as características essenciais desse fenômeno chamado conhecimento, apreende-se a essencial geral do fenômeno concreto. Neste sentido, e de acordo com Johannes Hessen, o fenômeno do conhecimento se apresenta da seguinte forma: o conhecimento aparece como uma relação entre dois elementos, consciência e objeto, sujeito e objeto; o dualismo entre sujeito e objeto permanece na essência do conhecimento; essa relação entre consciência e objeto é uma correlação, uma relação recíproca, onde o sujeito só é sujeito para um objeto e um objeto só é objeto para um sujeito. Mas ser sujeito é completamente diverso de ser objeto. A função do sujeito é apreender o objeto e a função do objeto é ser apreensível, é ser apreendido pelo sujeito. No entanto, não é o objeto que é arrastado para a esfera do sujeito, pois ele permanece transcendente a ele, é no sujeito que algo foi alterado pela função cognoscitiva. Daí surge no sujeito a figura que contém as determinantes do objeto, uma “imagem” do objeto.

O sujeito não é pura e simplesmente determinado pelo objeto, mas apenas a imagem nele (sujeito), do objeto. Por isso se fala que o objeto é o determinante, o sujeito é o determinado. A imagem é objetiva na medida em que carrega consigo as características do objeto. Diferente do objeto, a imagem está, de um certo modo, entre o sujeito e o objeto, é o meio pelo qual a consciência cognoscente apreende seu objeto. A verdade do conhecimento consiste na concordância da imagem com o objeto. A essência do conhecimento está estreitamente ligado ao conceito de verdade. Só o conhecimento verdadeiro é conhecimento efetivo. Um conhecimento é verdadeiro na medida em que seu conteúdo concorda com o objeto intencionado. Conseqüentemente, o conceito de verdade é um conceito relacional. Ele expressa um relacionamento do conteúdo do pensamento, da figura, com o objeto. Uma representação inadequada pode ser verdadeira, apesar de incompleta, se as características que contém a imagem, figura, existirem efetivamente no objeto. “Conhecimento não-verdadeiro” não é propriamente conhecimento, mas erro e engano. Afirma textualmente Johannes Hessen: “O fenômeno do conhecimento humano fica, assim, esclarecido no que diz respeito a suas características principais. Ficou claro, ao mesmo tempo, que esse fenômeno faz fronteira com três esferas distintas. Como dissemos, o conhecimento possui três elementos principais: sujeito, "imagem" e objeto. Pelo sujeito, o fenômeno do conhecimento confina com a esfera psicológica; pela "imagem", com a esfera lógica; pelo objeto, com a ontológica.” Com base na descrição fenomenológica, busca-se uma explicação e uma interpretação filosófica, uma teoria do conhecimento.

4. O problema do conhecimento. A questão da possibilidade do conhecimento, será o sujeito realmente capaz de apreender o objeto?
O autor argumenta que existem cinco problemas parciais para a possibilidade do conhecimento, a saber: dogmatismo, ceticismo, subjetivismo/ relativismo, pragmatismo e criticismo.
a) Dogmatismo. Esta palavra bem do grego e quer dizer doutrina estabelecida. Este ponto de vista é sustentado por uma confiança na razão humana que ainda não foi acometida pela dúvida. O conhecimento não é uma relação entre sujeito e objeto. Acredita-se que os objetos do conhecimento são dados como tais e não pela função mediadora do conhecimento. Na concepção de Kant, “o dogmatismo é o proceder dogmático da razão pura, sem a crítica de sua própria capacidade”. É uma atitude do homem ingênuo. É o primeiro e mais antigo dos pontos de vista.
b) Ceticismo. De, sképtesthai (considerar, examinar). Para o ceticismo o sujeito não é capaz de apreender o objeto. O conhecimento como apreensão efetiva do objeto seria impossível. Não se pode fazer juízo algum, deve-se abster de toda e qualquer formulação de juízo. Enquanto o dogmatismo desconsidera, de certo modo, o objeto, o ceticismo não enxerga o sujeito. Sua atenção está voltada para fatores subjetivos do conhecimento. O método do ceticismo consiste em: por em dúvida tudo o que aparece como certo e verdadeiro à consciência natural, eliminando toda inverdade e atingindo um conhecimento absolutamente seguro. Não há certeza no sentido estrito, apenas verossimilhança. De dois juízos contraditórios, um é exatamente tão verdadeiro quanto o outro. Para o ceticismo religioso, emprega-se o termo agnosticismo. Para o ceticismo ético, emprega-se o relativismo. Para o ceticismo metafísico, emprega-se o positivismo.
c) Subjetivismo e Relativismo. A validade da verdade restringi-se ao sujeito que conhece e julga. Para ambos, a verdade existe, mas é limitada a sua realidade. Não há verdade universalmente válida. Quando se julga que 2 x 2 = 4, este juízo é verdadeiro apenas para mim. Para outra pessoa ele pode ser falso. Enquanto o subjetivismo faz o conhecimento depender de fatores cognoscentes no sujeito, o relativismo enfatiza os fatores externos. Uma contradição: o subjetivismo e o relativismo afirmam que não existe verdade universalmente válida, mas a expressão “toda verdade é relativa” é uma validade mais que relativa. Traduz um estado de coisas objetivo que vale para um todo sujeito pensante.
d) Pragmatismo. Do grego prâgma, ação. Segundo esta concepção, verdadeiro significa o mesmo que útil, valioso, promotor da vida. O homem é antes de tudo um ser prático, dotado de vontade, ativo e não um ser pensante, teórico. A verdade do conhecimento consiste na concordância do pensamento com os objetivos práticos do homem, naquilo que provar se útil e benéfico para sua conduta prática. O problema do pragmatismo é que ele desconhece o valor próprio, a autonomia do pensamento humano. Nietzsche (1900) ensina: “A verdade não é um valor teórico, mas uma expressão para a utilidade, para a função do juízo que é conservadora de vida e servidora da vontade de poder”.
e) Criticismo. De krínein, examinar, pôr à prova. É um ponto de vista intermediário entre o dogmatismo e o ceticismo. Não é cético nem dogmáticos, é questionador. Aproxima-se do ceticismo – junta à confiança no conhecimento humano em geral uma desconfiança com relação a qualquer conhecimento determinado. Poe a prova toda afirmação da razão humana e não aceita nada inconscientemente. No fundo, subjetivismo, relativismo e pragmatismo é uma forma de ceticismo. Com relação ao método para filosofar, investiga as fontes das afirmações e objeções, tanto quanto as bases fundamentais sobre os quais repousam. Deposita uma esperança em atingir a certeza. Dentre as possibilidades do conhecimento, este é o que parece ser o mais maduro. “Seu comportamento não é nem cético nem dogmático, mas criticamente inquisidor – um meio termo entre a temeridade dogmática e o desespero cético”.

5. O conceito de verdade.
Quanto ao conceito de verdade, vale relembrar a concepção adotada por Johannes Hessen. Para ele a verdade do conhecimento consiste na concordância do conteúdo do pensamento com o objeto, esta concepção define-se por um conceito transcendente de verdade. Contudo, esta conceituação se contrapõe com uma outra chamada de conceito imanente de verdade. Para o conceito imanente de verdade, a essência da verdade está na relação do conteúdo do pensamento com algo contraposto, transcendente, mas no interior do próprio pensamento. A verdade é a concordância do pensamento consigo mesmo. Nesta última concepção, o conceito imanente ou idealista de verdade carrega consigo um critério de verdade – a ausência de contradição. Esse tipo de critério lógico só poderá ser validado para algumas ciências particulares, como a lógica e a matemática, pois não lida com objetos reais. Assim, segundo esta concepção, um juízo é considerado verdadeiro se construído segundo as leis e normas do pensamento. Entre tanto, esse critério de verdade fracassa quando não mais tratamos com objetos ideais, mas com os objetos reais ou reais para a consciência.