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quinta-feira, 16 de junho de 2011

YouTube - Oração do Pai Nosso em Aramaico com Tradução

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Reencarnação: uma ideia que fazemos da justiça divina.


Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 – Paris, 31 de março de 1869), pseudônimo Allan Kardec, filósofo, educador, escritor e fundador do Espiritismo, deixou-nos inúmeras contribuições epistemológicas importantes para o desenvolvimento da humanidade. Dentre elas, em parceria com os Espíritos Superiores, encontra-se O Livro dos Espíritos, uma obra filosófica espiritualista, ética e moral de alta profundida, contendo os princípios concernentes à Doutrina Espírita (uma síntese do conhecimento espiritual universal).
No capítulo IV (Pluralidade das Existências, item 1 – Da Reencarnação), do mesmo livro citado acima, Allan Kardec questiona os Espíritos com uma pergunta muito simples: “167 – Qual o objetivo da reencarnação?” Para uma pergunta tão objetiva, veio na seqüência uma resposta objetiva: “167– Expiação, aprimoramento progressivo da humanidade, sem o que, onde estaria a justiça?”.
Allan Kardec inquire ainda os Espíritos sobre o tema “Justiça da Reencarnação”, na pergunta 171, do mesmo livro: “sobre o que está baseado o dogma da reencarnação?” A resposta para esta questão é relativamente extensa, incluindo um comentário de Allan Kardec, mas eu sintetizaria com as primeiras frases: “Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois, repetimos sempre: Um bom pai deixa sempre aos seus filhos uma porta aberta ao arrependimento.” No terceiro parágrafo do comentário de Allan Kardec sobre essa questão específica, ele afirma: “A doutrina da reencarnação, isto é, aquela que admite para o homem várias existências sucessivas, é a única que responde a ideia que fazemos da justiça de Deus em relação aos homens colocados em uma condição moral inferior, a única que nos explica o futuro e fundamenta nossas esperanças, pois que nos oferece o meio de resgatar nossos erros através de novas provas. A razão indica essa doutrina e os Espíritos no-la ensinam.”
Portanto, foram os Espíritos Superiores e Allan Kardec, os primeiros a considerarem as questões relativas a “Reencarnação e sua justiça”, sob o ponto de vista do Espiritismo (tendo como marco de fundação desta doutrina a publicação de O Livro dos Espíritos em 1857), um aprimoramento espiritual da alma que retorna a vida corpórea e um resgata das faltas ou erros cometidos no passado, em outras existências. Em diversas obras espíritas e não espíritas, sobre o tema reencarnação, de várias culturas diferentes, sob vários olhares distintos, seja de religiosos, não-religiosos, pesquisadores, etc, há um princípio que norteia a ideia da reencarnação: a evidência da existência da vida após a morte e a necessidade que o ser, personalidade ou espírito possui, de retornar ao cenário da terra para resgatar, refazer, cumprir, crescer e transcender as dificuldades da existência biofísica, como uma conseqüência causal que se prolonga em vidas sucessivas.
Sob o olhar das religiões e culturas orientais, a reencarnação e sua justiça se desdobra nos aspectos relativos ao conceito de “carma” ou “karmam”, termo do sânscrito que significa “ação”. No budismo, por exemplo, o ser humano está preso à samsara (roda das reencarnações), por gerar “carma”, onde a libertação da roda de samsara ou das reencarnações deve ser alcançada pelo desenvolvimento de atos e intenções corretas. As várias conceituações de reencarnação que podemos analisar nos faz perceber que o sentido e a ideia de o Espírito retornar à vida biofísica, em outros corpos, após a morte do corpo biológico, permanece inalterado. Este seria um ponto ou fundamento comum entre estas várias concepções de reencarnação
O retorno do Espírito a vida na terra ou reencarnação é um dos fundamentos do espiritismo de suma importância. Fazendo um comentário na questão 199 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec coloca: “Pela reencarnação, a igualdade é para todos; o futuro pertence a todos sem exceção e sem favor para ninguém; os que chegam por último não podem culpar senão a si mesmos. O homem deve ter o mérito dos seus atos, como tem a responsabilidade.” Uma lei universal de causas e efeitos sucessivos, sob o ponto de vista espiritual, mesmo que sejam desconhecidas as causas de alguns desses efeitos evidentes, deve ser considerada como uma explicação plausível e coerente para justificar uma série de acontecimentos pessoais e coletivos, onde a simples expressão ceticista “isso é fruto do acaso” não responde melhor que a ideia de uma ação e reação, direta ou indireta, de fatos e coisas do espírito.
Os mais céticos, certamente, não concordaram com essa hipótese reencarnatória, ainda mais de ser ela considerada como fonte explicativa de acontecimentos passados, presentes e futuros (a esperança na vida futura, da vida após a morte, “reserva-nos” melhores condições de vida, a priori). Os céticos também são coerentes (apenas aqueles que de fato o são) com suas crenças, a priori, onde a negativa da evidência espiritual se forma como um pressuposto explicativo, uma vez que as condições de verificação da realidade espiritual nem sempre se encaixam “perfeitamente” nas teorias e/ou nos métodos científicos existentes. O ceticismo científico baseia-se na necessidade ou na exigência de verificar as ideias, crenças, hipóteses, pressupostos, através dos métodos comprovadamente científicos e historicamente validados por uma comunidade acadêmica, mesmo que nem sempre isso seja amplamente utilizado pelos céticos.
Frente a toda essa conjuntura de fatos sociais, pessoais e acontecimentos fortuitos, “ocasionais”, das pequenas às grandes tragédias, dentre tantas formas de análises das coisas físicas e extra físicas, estamos experimentando o sabor de viver a vida que merecemos. Sim, há um merecimento implícito e explícito em todas essas coisas da vida. Uma expressão muito singela, mas que guarda uma profundidade por trás de suas palavras, quase como quem entra num labirinto e não consegue achar a saída, diz: Quem deve paga, quem merece recebe.
Eu fico pensando... Seria realmente muito injusto eu pagar alguma conta da qual eu não sou devedor! Seria uma crueldade tamanha eu ser acusado de um crime que não cometi! Seria falta de justiça eu ser condenado por algo que não fiz ou receber uma punição maior do que deveria! Merecemos viver aquilo de que somos responsáveis. Merecemos receber aquilo de que plantamos ou estamos plantando. Merecemos passar por aquilo que fomos construindo ao longo dos anos ou estamos construindo agora. Somos merecedores de tudo o que é nosso! Se foram infortúnios, desgraças, maldades ou bondade, amor, paz, fraternidade, o que mais nos dedicamos a fazer, a semear, a construir, consequentemente, será isso o que colheremos ou possivelmente já estamos colhendo no presente! É conseqüentemente válido respondermos ou sofrermos uma ação da qual somos o autor e se faz justiça. Mas o que vem a ser justiça? Segundo os Espíritos que ditaram O Livro dos Espíritos, justiça consiste no respeito aos direitos de cada um e esses direitos são determinados pelas leis humanas e pelas leis naturais.
Quando julgamos as pessoas, suas vidas e suas ações (ainda olhando pelo prisma da justiça e da reencarnação ou da lei do karma, ou da lei de ação e reação), baseando-se na lei de talião - lex talionis -, que consiste numa rigorosa reciprocidade, retaliação do crime e da pena cometidos, vemos mais de perto a condição inferior de nossas consciência em fazer justiça com os mesmos atos de injustiça. Se eu fui agredido injustamente, devo, posso, segundo a lei de talião, revidar meu agressor com a mesma medida de força sofrida. Talvez seja esta a condição primitiva da defesa e do ataque em nossa espécie.
Infelizmente, boa parte das pessoas atribuem causas diretas do passado (outras existências) aos acontecimentos e sofrimentos do presente, uma relação causa-e-efeito direto, quando nem sempre se sabe com critérios lúcidos quais as questões implicadas na história de vida dos envolvidos. A história de vida das pessoas é construída com base nos eventos passados (outras existências) e eventos presentes (atual existência), e para cada abrangência existencial dessa, desdobram-se sem números de outras situações conhecidas e desconhecidas. Uma grande teia complexa de relacionamentos se forma, onde uma única pessoa faz contato direto com outra, e esta por sua vez repete o movimento com uma terceira e sucessivamente, ambas influenciam-se num verdadeiro processo de mutuo contato interexistencial. Tudo se encadeia no universo! Nada está solto, tudo está interconectado.
Segundo o físico nuclear David Bohm, o universo inteiro funciona como um holograma, em que cada uma das partes interpenetra as outras. O todo está nas partes e as partes estão no todo. O nosso corpo seria um bom exemplo de interconectividade funcional e dinâmica.
Podemos receber o fruto de nossos investimentos no presente, por méritos de nossos esforços atuais, como podemos sofrer uma conseqüência, agradável ou desagradável, por causas passadas implicadas em nossa rede de relacionamentos.
Com a questão do merecimento ou da meritocracia, onde obtemos os resultados daquilo de que fomos capazes de realizar por nossos próprios esforços, habilidades e aptidões (méritos), parece-nos que vamos formando uma espécie de banco de dados de atos e intenções, um tipo de currículo vitae, de nosso próprio desempenho espiritual ao longo dos tempos.
Podemos inferir que todos somos merecedores das mais altas possibilidades de perfeição. Por princípios transcendentes e espirituais, merecemos as melhores condições de vida existente e pós-existente, pelo fato, a priori, de sermos imortais e criados para felicidade suprema. Somos divinos! Mesmo assim (e esta é uma situação limitante, condicionante biopsicossocioespiritual), não estamos, enquanto seres humanos enraizados na terra e limitados em várias condições do viver, capazes de nos qualificar como alguém, aqui e agora, livre em absoluto de qualquer mácula pretérita. Nossa situação de Espírito reencarnante e pós-existente á vida biológica, nos favorece a um contínuo desenvolvimento de nossas potencialidades divinas. O potencial é a condição visível ou pensada de uma ação real de vir-a-ser. Pelo fato de estarmos num processo evolutivo e contínuo de ações e reações (karma), estamos construindo o nosso destino, com base em nossa experiência passada, presente e futura. Então, do ponto de vista do equilíbrio da balança encarnatória, sofreremos mais ou menos, ganharemos mais ou menos, receberemos mais ou menos, cumpriremos mais ou menos os nossos destinos, de acordo com a medida dos nossos esforços pessoais e coletivos, considerando a força do passado, do presente e do nosso futuro, todos coexistindo no aqui e agora. Ao dizermos que somos frutos de nossas escolhas no aqui e agora, devemos ampliar esta afirmação para incluir todas as nossas experiências e escolhas passadas, de outras existências, sem o que estariam faltando peças importantes no grande quebra-cabeça da vida e das relações humanas.
Uma outra importante questão filosófica se lança nessa discussão sobre reencarnação como uma idéia de justiça divina, diz respeito com a liberdade. Marilena Chauí, no capítulo 6 – A Liberdade, do livro “Convite à filosofia” argumenta: “Se o mundo é um tecido de acasos felizes e infelizes, como esperar que sejamos sujeitos livres, se tudo o que acontece é imprevisível, fruto da boa e da má sorte, de acontecimentos sem causa e sem explicação? Como sermos sujeitos responsáveis num mundo feito de acidentes e de total indeterminação? Se tudo é contingência, onde colocar a liberdade?” Discorrer sobre liberdade é como dirigir um automóvel em noite escura, chuvosa, com pista escorregadia e pouca visibilidade. O risco de acidentes é muito grande!
Allan Kardec e os Espíritos que ditaram “O Livro dos Espíritos”, afirmam que a liberdade de agir existe desde que haja liberdade de fazer e que a liberdade é uma conquista gradativa como conseqüência do desenvolvimento do homem. O livre arbítrio é aplicado às coisas de acordo com as necessidades. Conforme vamos avançando em nossas necessidades, avançamos em nossa liberdade. Então, de uma forma ou de outra, temos liberdade, porém temporalizadas as condições limites existenciais.
Não podemos pensar a liberdade sem considerar a presença da consciência, da vontade e da responsabilidade. Agir com liberdade é ter consciência para dirigir a vontade e assumir a responsabilidade pelos atos praticados. Mas não estamos conscientes de tudo, nem muito menos o tempo todo! Escolher é colocar nossa capacidade em experimentação. Escolher é exercer o direito de livremente manifestar-se com os recursos e capacidades próprias, segundo a força da vontade e a abrangência da consciência, que assumirá, determinantemente, uma responsabilidade.
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Eu sou Geylson Kaio, psicoterapeuta e atual presidente da ASSEPE.

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