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Mente...Corpo...Espírito

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sábado, 2 de agosto de 2008

O fenômeno da fé sob a perspectiva da consciência

Usualmente tem-se o conceito de Fé inseparável do conceito de religião. Esses conceitos criados pelos homens, foram sendo passados de geração em geração através de vários métodos, pela contação de histórias, pelos relatos de fatos extraordinários, pela experiência direta de fenômenos transpessoais, etc.
O fato é que a experiência da Fé é algo intrigante e volátil ao mesmo tempo. Muitos acreditam piamente na experiência mística como solução de problemas humanos e sobre humanos. Outros acreditam cegamente na revelação do sagrado como o sentido ultimo da vida e se portam como agentes propiciadores da divindade na terra. E outros se relacionam com a Fé num misto de desconfiança e incredulidade por não encontrar na explicação da Fé, o sentido de experiência significativa, e desta forma, não serve como referência na vida.
A verdade é que temos tido motivos para acreditar em várias coisas e ao mesmo tempo não acreditar em nada. Esta postura mental e existencial é um desafio de natureza transpessoal. Recolocando um outro sentido ou simplesmente explorando os vários significados que o conceito Fé pode nos proporcionar, veremos que este fenômeno está em posição contrária ao que se verifica no seu uso mais geral e habitual.
Segundo o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0, a palavra Fé assume alguns significados diferentes, como por exemplo, a primeira das três virtudes teologais; confiança absoluta (em alguém ou em algo); credito; asseveração; afirmação; comprovação de algum fato; crença religiosa sem fundamentos racionais; compromisso assumido de ser fiel a palavra dada, de cumpri exatamente o que se prometeu; credibilidade que deve ser dada ao documento no qual se funda; etc. Vários significados para uma única expressão. Significados diversos, mas todos procurando dar como certo o fato da existência de uma relação de confiança mantida e estabelecida pelo homem.
A confiança é uma força intima que impulsiona aquele que a tem. É um sentimento de segurança interior que atesta a existência da coragem e da vontade de fazer. Portanto, a Fé é um conceito inseparável do conceito de Confiança. Não é possível existir Fé, sem a existência da Confiança. E a confiança é a certeza de que algo será cumprido, realizado. É a esperança e o otimismo aliados na certeza do que se quer.
Sob a perspectiva da consciência, verificamos que o elemento mais importante da noção de consciência é a intencionalidade. A intencionalidade diz daquilo que eu dirijo, daquilo que faço com vontade, com propósito, procurando da um sentido e significado. A consciência é algo vivo e em constante interação com os conteúdos psíquicos do ser. Mas nem tudo está plenamente consciente em nós. Temos aspectos comportamentais, por exemplo, de que ainda não estamos utilizando de maneira intencional, consciente. Ao conversar com uma pessoa que não nos agrada e que gostaríamos de evitar contato, por exemplo, podemos estar tendo experiências conscientes, intencionais, sendo educado e ao mesmo tempo, podemos estar demonstrando um desagrado com uma postura corporal sem que percebamos isso. Na medida em que eu sei que isto está acontecendo, ou seja, na medida em que eu estou consciente destes comportamentos, poderei ser mais autentico e expressar-me com mais sinceridade e leveza. A consciência é um elemento que torna vivo aquilo que aparentemente estava morto ou pelo menos indisponível para a consciência.
Neste sentido, a Fé é uma experiência da consciência, onde os fenômenos ocorrem na medida intencional da vontade e da confiança na realização de suas expectativas e certezas. Sem o uso consciente da nossa vontade, não é possível termos um fenômeno de Fé. Sem a existência de um sentido ou significado para a vida, não é possível continuar vivendo. Muitas mortes por suicídios são originárias da falta de sentido na vida. A vontade de viver e o uso consciente das nossas habilidades e potencialidades nos tornam cada vez mais um ser em constante processo de auto-transformação, em busca da profunda experiência divina realizadora.
Geylson Kaio
Psicólogo/Psicoterapeuta e Consultor

A Marcha dos Pinguins

A milhões de anos os pingüins-imperadores são capazes de sobreviver no deserto gelado e insuportável do continente Antártico. Os pingüins são verdadeiros dançarinos de uma melodia tocada à milênios pela mãe natureza. A cada temporada de verão, a comunidade dos pingüins do Antártico, se desloca para uma região especifica, onde se protegem e se acasalam, perpetuando a espécie. São nove meses de uma profunda aventura em defesa da vida e do amor, e três meses de e delícias no oceano.
Os vários pingüins existentes na região Antártica, se deslocam e se agrupam formando uma só unidade, na qual resistem e sobrevivem de corpo e alma. A luta pela sobrevivência só é possível por causa do senso de unidade à que todos se condicionam. Quando a ventania gélida avança, comprometendo a própria vida, eles se aglomeram uns aos outros, formando um extenso conjunto de corais comparados a um casco de tartaruga, tal a solidez de suas roupas especiais. Não obstante a tudo isso, eles ainda giram entre si, numa espécie de redemoinho, para gerar mais energia aos que estão no centro do grande circulo.
Estes elegantes pingüins são comparados a graciosos dançarinos da natureza, por causa de seus rituais de amor e poesia para o tão esperado ato de acasalamento. Quando as fêmeas procuram e acham seus parceiros ideais, tanto o macho como a fêmea, mantêm-se fieis um ao outro, pelo período mínimo de um ano, que é quando completa o ciclo das mudanças de seus hábitos e costumes. É possível que estes parceiros sobrevivam e continuem a sua longa jornada, mantendo-se, unidos pelos laços do amor. Antes que o acasalamento aconteça, eles se namoram e dançam, em busca de uma harmonia perfeita para o tão maravilhoso momento de suas vidas: amar e preserva a espécie.
Após o acasalamento é esperado que no ventre das fêmeas esteja em desenvolvimento um belo e corajoso filhote de pinguin. Quando a mãe-pinguin coloca o ovo, cabe ao pai ensaiar e cuidar da tenra vida que acaba de surgir, onde sob sua responsabilidade, deverá manter aquecido e protegido seu filhote, enquanto a mãe vai em busca de comida para si e para o pequenino rebento. Esta marcha em busca de alimento leva, aproximadamente, a mesma quantidade de tempo que levaram para chegar onde estão, em torno de 20 á 30 dias de longa caminhada. Passam-se aproximadamente 4 meses, quando as mães-pinguins retornam para alimentar os seus filhotes, que já nasceram, mas não comeram, e os pais devolvem os filhotes as suas mães, que como no ritmo harmonioso de uma dança, é a sua vez de procurar alimento para se manter vivo.
Após esse longo ciclo de idas e vindas, superando desafios existenciais profundos, a família de pingüins se reencontra e, finalmente, podem curtir alguns momentos juntos antes de se separarem para refazerem sua caminhada, demonstrando que cada um dos parceiros-dançarinos sabe exatamente até onde podem ir com relação aos cuidados dos filhotes, uma vês que eles também precisam crescer, se desenvolver e continuar a marcha dos pingüins.
Que história! Quanta coisa podemos aprender com a natureza! Ela realmente não dá saltos. Se nós estivermos bem atentos a tudo o que acontece perto de nós, paralelo à vida humana, e pudermos apreender os ensinamentos milenares formados pelos nossos antecessores, estaremos bem mais felizes e cumpridores das nossas missões, realizando nossos desejos, sublimes desejos, e preservando a cultura do trabalho, da solidariedade, do amor, da esperança, da plenitude e da continuidade da vida humana.
Geylson Kaio
Psicólogo/Psicoterapeuta e Consultor